quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A LENDA DE EL-REI D. SEBASTIÃO


Li hoje um anúncio extraordinário - no bom sentido - no Diário Popular de 29 de Julho de 1967. Rezava assim:

Quarteto 1111

Uma das tentativas mais válidas para a evolução da música portuguesa. Oiça o Quarteto 1111 no programa "Em Órbita" a partir de hoje cerca das 19H30.

Há neste anúncio um elemento histórico-cronológico deveras interessante. É que 40 anos depois, sabemos que "A Lenda" passou pela primeira vez no "Em Órbita" no dia 29 de Julho de 1967.

Se não fosse este anúncio, como saberíamos hoje em que momento isso se teria passado?

E a propósito desta estreia e única passagem de música portuguesa no "Em Órbita", disse Cândido Mota aos microfones do Rádio Clube Português em várias ocasiões:

"É o sebastianismo colectivo que na lenda se retrata, a ideologia negativista dos que se alimentam da crença irracional em coisas, em valores, em poderes que não existem, dos que se deixam enganar pelos falsos Messias do oportunismo e da mistificação".

"Uma tentativa honesta e inédita de lançamento das bases de uma música popular portuguesa que todos nós, em boa consciência, queremos renovada por inteira".

"Temos para nós que o trecho que vamos apresentar preenche os requisitos mínimos para a sua divulgação por este programa, com todas as implicações que a sua transmissão através de "Em Órbita" acarretam.

"Tendo por título "A Lenda De El-Rei D. Sebastião", é escrito por um português tocado e cantado por portugueses.

"Vamos apontar o que nela se nos afigura existir de importante e de novo, focando em especial os aspectos puramente interpretatitvos, instrumentais e vocais.

"O que neste trecho impressiona mais, o que nele se inclui de mais nitidamente inédito é que, em cima de uma melodia de encantadora simplicidade, há uma história singela, popular, portuguesa, dita em versos directos, certeiros, desenfeitados.

"Conta-se uma lenda. Como lenda que é, trazida até hoje pela herança popular, pertence ao folclore, ao património mais íntimo da comunidade e dos costumes do nosso país.

"É um tema eterno, de criação nacional e de validade perene e universal".

1 comentário:

bissaide disse...

É, sem dúvida, um momento-charneira na história do rock português, e o primeiro passo consciente de uma modernidade musical tantas vezes adiada (antes e depois). José Cid, António Moniz Pereira, Jorge Moniz Pereira e Miguel Artur da Silveira deveriam receber o Grande-Colar da Ordem da Liberdade - pois que bem prestaram serviços relevantes "em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do homem e à causa da liberdade." Parafraseando o próprio Cid, "tenho dito"!